06/05/2016
Crédito Isabela Londe
Na quadra do berço do samba, o cantor e convidados internacionais tocam repertório inédito da turnê Orla Mundo. Apresentação é gratuita
É a primeira vez que Orlando Morais fará show na Quadra da Portela. A apresentação abre a turnê Orla Mundo, que também passará por Goiânia e Brasília. Para começar com o pé direito a série de espetáculos, nada melhor que abrir na casa do samba azul e branco. O cantor e compositor tocará repertório inédito ao lado de músicos internacionais. O evento será realizado no dia 11 de maio, às 21 h. O show é gratuito.
“Há muito tempo que não faço show no Rio. Pensei na Portela por ser o berço do samba e um lugar que iria maravilhar os músicos convidados. Por causa do Orla Mundo, fui à quadra pela primeira vez. Quando cheguei à escola, seu Monarco estava me esperando e me convidou para cantarmos juntos. Esse foi o sinal de que fiz a escolha certa. Adoro samba, mas nunca tive coragem de fazer um. Quando ele me fez o convite, pensei: que honra. Ele é um dos reis dessa alquimia chamada samba”, explica Orlando.
Os cariocas terão oportunidade de ver várias nacionalidades reunidas no palco. Os convidados vão da África à China. Os músicos que integram o show são: Kassé Madi Diabaté, Matthieu Rabaté, Moussa Koita, Regis Gizavo, Jean Lamoot, Raphael Thuia, Guo Gan e as Irmãs Caronni. “O intercâmbio cultural que a música proporciona é riquíssimo. Com o Orla Mundo, conseguimos trazer a música do mundo para o Brasil”, ressalta o cantor brasileiro.
Rivière Noire, último disco do Orlando Morais, foi a inspiração para o projeto. O trabalho em conjunto com Jean Lamoot e Pascal Danaé rendeu prêmios e apresentou a nova música africana ao músico goiano. Com estúdio de gravação em Paris, o contato com artistas do mundo todo se intensificou.
“A cada nova descoberta musical as possibilidades sonoras aumentavam. Cantei com gente do mundo inteiro, com artistas que vão da China a Madagascar, até franceses muito conhecidos. Isso me deu oportunidade de criar um diálogo, algo de que eu sempre gostei”, afirma Orlando.
Projeto social
No Rio de Janeiro, os ingressos poderão ser adquiridos mediante doação de uma lata de leite em pó, na bilheteria da quadra, até 11 de maio (exceto domingo), das 10 h às 18 h. A campanha beneficiará a Casa de Apoio a Crianças com Câncer São Vicente de Paulo. Além da produção musical e cultural, a turnê propôs ações sociais nas três cidades.
Cenário ecológico
A sustentabilidade invadiu o palco do Orla Mundo. A consciência ecológica é o mote da cenografia dos shows do festival. A matéria-prima usada para a montagem do cenário são sacos de cimento descartados por obras de construção. O processo de transformação do resíduo é simples, o que antes era lixo pode se converter em móveis, peças artísticas e instrumentos musicais.
“O projeto artístico que desenvolvemos para os shows destaca o trabalho do artesão. Ao mesmo tempo em que tem identidade, está em harmonia com o jogo de luzes, sem tirar a atenção do público e dos músicos. Por meio da arte, estamos fazendo nossa parte ao tentar encontrar maneiras de diminuir a produção de lixo”, explica Gil Ferreira, cenógrafo.
A produção dos cenários tem o Espaço Tempo Eco Arte, de Taguatinga, região administrativa próxima a Brasília. À frente do coletivo desde 2002, Virgilio Mota orienta o trabalho de experimentação da oficina com materiais recicláveis. O painel artístico do Orla Mundo terá quatro metros de altura por 15 de largura. Ao lado da obra, seis painéis verticais de led transmitirão imagens dos países representados pelos convidados internacionais durante o show.
Dois cenários estão sendo montados. Um dos painéis vai para o Rio de Janeiro e será finalizado com a ajuda da comunidade da Portela. Dali, a obra não sai. É presente do festival para a quadra da escola de samba. O segundo passará por Goiânia e enfeitará o show de encerramento em Brasília.
Efervescência africana
Kassé Mady, Regis Gizavo e Moussa Koita são os representantes do continente africano no palco do Orla Mundo. A contemporaneidade marca o trabalho dos artistas. A música desses africanos preserva a tradição ao mesmo tempo em que eles desenvolvem estilo próprio. Ao lado de Orlando Morais e outros artistas convidados, a nova música africana ganha destaque.
Outra curiosidade em suas histórias é a herança griot (pronuncia "griô"). O termo vem do vocabulário franco-africano criado na época colonial para designar narrador, cantor ou cronista, um personagem importante na estrutura social da maioria dos países da África Ocidental.
A importância da tradição oral dos griots vai além da preservação cultural do povo africano. De certo modo, foram a base de parte da música negra que se desenvolveu na América do Norte, em especial o blues. Muitos músicos modernos de Mali, Guiné e Níger, influenciados pelas linhas musicais dos griot e ao mesmo tempo pelas novidades do estrangeiro, acabaram por adotar a guitarra elétrica, aproximando-se ainda mais do som do blues. Os primeiros artistas griots começaram a gravar no início dos anos 1950.
Kassé Mady é considerado um dos tesouros nacionais de Mali, país localizado na África Ocidental. Nasceu em uma família que tem como tradição preservar a cultura do seu povo por meio da música. Ao longo da carreira, colecionou parcerias internacionais. O resultado é um som ousado, marcado por suas raízes e pela bagagem musical que acumulou com tantos encontros. Koulandjan, álbum em que colaborou com Taj Mahal e Toumani Diabaté, foi citado como um dos discos favoritos do presidente americano Barack Obama.
O multi-instrumentista Moussa Koita é de Burkina Faso. Também vem de uma família griot. Além de cantar, toca teclado, guitarra, baixo, balafon, ngoni e djembê. Em Paris, o músico acompanha regularmente o artista malinês Abu Diarra em apresentações de blues mandingo. Das parcerias com artistas africanos, vem desenvolvendo novos sons para uma cultura já tão rica.
O músico poderia ser apenas mais um dos 13 filhos de sua família, mas, aos seis anos, destacou-se revelando o talento musical. Gizavo nasceu em Tulear, sudoeste de Madagáscar. Seu talento ultrapassou as fronteiras do pequeno país. Ao longo da carreira, sempre insistiu em expressar o próprio estilo musical e permanecer fiel às suas raízes, sendo muito requisitado na cena musical como acompanhante.
Leveza oriental
Guo Gan aprendeu a tocar erhu, violino chinês de duas cordas, com quatro anos. O músico aprendeu com o próprio pai, Guo Junming, artista reconhecido na China, a arte do instrumento de duas cordas. Estudou no Conservatório de Shenyang, onde integrou o quadro de professores, depois de se formar. Ganhou prêmio no 1.º Concurso de Música Tradicional, em 1992.
Em 2001, começou seus estudos de percussão na Escola Nacional de Música de Paris. Já tocou com músicos famosos, como Lang Lang, Didier Lockwood, Yvan Cassar, Jean-François Zygel, Nguyen Lê, Gabriel Yared e Saiyuki.
Dupla argentina
Laura e Gianna, as irmãs Caronni, foram para Europa, no fim dos anos 90, para dar continuidade os estudos musicais que iniciaram nas margens do Rio Paraná, em Rosario (Argentina), também conhecida como a cidade de Che Guevara. Elas faziam parte da Orquestra Acadêmica do Teatro Colon Opera House, em Buenos Aires. No repertório, as músicas iam do clássico ao contemporâneo. Laura toca violoncelo, e Gianna, clarinete.
Começaram a se apresentar aos 12 anos por todo o país. No início da jovem carreira, ganharam prestigiados concursos. Hoje, moram em Bordéus, França. Trabalham separadamente a composição e criação de várias apresentações de dança, contação de histórias e teatro. Em 2006, incentivadas por seu compatriota Juan Carlos Cáceres, começaram a trabalhar nas próprias composições. O primeiro álbum, Baguala Siesta, publicado em 2011, foi aclamado pela crítica.
25 anos de carreira
O goiano Orlando Morais saiu do centro do País para ganhar o mundo. Sem almejar o sucesso como principal objetivo, conquistou muito mais. O destino não poderia ser diferente para quem apresentou talento nato ainda na infância. O cantor, depois de 25 anos de carreira, integra o hall de artistas brasileiros que têm reconhecimento nacional e internacional.
Com apenas quatro anos aprendeu a tocar piano, de ouvido. Não imaginava que a música teria força capaz de guiá-lo tão longe. “A música me salvou. Aos 12 anos, comecei a achar a vida chata, sem objetivo. Não tinha ambiente musical para mim na minha cidade. Isso mudou depois que ouvi pela primeira vez Luiz Gonzaga. Fiquei fascinado. Percebi que a música poderia ser muito mais do que eu pensava”, afirma Morais.
O artista conta que compõe ouvindo o coração. Há oito anos, tem trabalhado intensamente na França. Em Paris, Orlando Morais entrou em contato artistas de vários países. “Esse tempo todo que passei em contato com a música do mundo cantei com muita gente. Foram 256 composições com 80 artistas, que vão da China a Madagascar. Isso me deu oportunidade de criar um diálogo, algo de que eu sempre gostei”, conta o instrumentista.
Em 2015, foi vencedor do 30.° Prêmio Victoire de la Musique, o Grammy Europeu, de melhor álbum mundial com o CD Rivière Noire. Em 2016, ganhou o prêmio German Record Critics, uma das mais importantes premiações da Alemanha.
Ingressos
Local: Bilheteria da quadra da Portela
Data: até 11 de maio, exceto domingo (8/5)
Horário: das 10 às 18 horas
Troca: 1 lata de leite em pó por 1 ingresso
Destinação: Casa de Apoio a Crianças com Câncer São Vicente de Paulo
Serviço do show
Orla Mundo, com Orlando Morais e músicos internacionais
Dia: 11 de maio
Horário: 21 h
Local: Quadra da Portela (Rua Clara Nunes 81, Oswaldo Cruz)
Entrada gratuita